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Pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, publicaram este ano na Endocrine Society um estudo sobre as possíveis fisiopatologias para o cenário clínico e laboratorial do paciente com obesidade em relação aos processos reprodutivos e o comportamento sexual.

Obesidade e fertilidade

Sabe-se que o gerenciamento dos mecanismos que resulta na produção de hormônios sexuais em ambos os sexos está contido no eixo hipotálamo-hipófise (sistema nervoso central) e nas gônadas (órgãos que produzem as células sexuais). O hipotálamo estimula a hipófise, que produz tanto o hormônio folículo estimulante (FSH) quanto o hormônio luteinizante (LH).

Na mulher, o FSH estimula os ovários a produzirem estrógenos e ajuda na ovulação, enquanto nos homens possui relação estreita com a produção de espermatozoides. O LH, por sua vez, impõe a produção de progestágenos nas mulheres e de testosterona nos homens.

A redução ou alguma falha de funcionamento em ovários e testículos elevam a produção de FSH e LH, como acontece já na fase da menopausa e no decorrer do envelhecimento masculino. Essas pequenas falhas neste setor do sistema nervoso central podem trazer prejuízos para o ciclo reprodutivo de ambos os sexos.

O que foi identificado?

Os pesquisadores conseguiram observar como acontecem as interações desses centros com substâncias encontradas com elevada concentração em pacientes obesos.

Como a resistência à ação da insulina no obeso é resultante da ação de substâncias derivadas do metabolismo do excessivo depósito gorduroso visceral, o pâncreas é obrigado a produzir maiores quantidades de insulina para conseguir ajudar o organismo a funcionar melhor.

Embora o cérebro não precise de insulina para utilizar a glicose, existem diversos receptores para esse hormônio em vários de seus setores, principalmente nas regiões hipotálamo-hipofisárias. Outro ponto importante é que a hiperinsulinemia (resistência à insulina), condição presente nas pessoas que sofrem de obesidade, interfere para o desequilíbrio reprodutivo do indivíduo.

Outro hormônio importante neste processo é a leptina, que é produzida pelo tecido adiposo, e possui muita relevância na contenção da ingestão alimentar. Seus níveis são proporcionais a quantidade do depósito gorduroso, o que explica a enorme concentração dessa substância em pacientes obesos.

Outra observação importante relatada pelos pesquisadores foi sobre a presença de uma lesão hipotalâmica provocada por componentes celulares vindos do processo inflamatório do tecido gorduroso de indivíduos com obesidade.

Esse processo inflamatório é disseminado por todo o tecido adiposo do paciente obeso, elevando a concentração de diversas substâncias e componentes celulares. Existem evidências de que células conhecidas como macrófagos, originados dessa citada inflamação, participam do processo inflamatório hipotalâmico, comprometendo o funcionamento de várias de suas seções.

A última revelação girou sobre o processo inflamatório do hipotálamo, induzido por uma alimentação rica em gorduras. É possível que mecanismos semelhantes comprometam as áreas que gerenciam a reprodução de pacientes obesos devido a grande ingestão desses alimentos gordurosos.

Para o endocrinologista Mário Kehdi Carra, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), os resultados da pesquisa são muito interessantes, apesar da relação entre obesidade e fertilidade já serem conhecidas pela literatura médica.

“Já sabíamos que existe uma dificuldade na área reprodutiva em pessoas obesas. A porcentagem de homens e mulheres que têm dificuldade na fertilidade é parecida, mas o fato mais importante é que ambos devem perder peso para que a mulher possa ter mais chances de engravidar. Mudanças no estilo de vida, tratamento medicamentoso ou cirurgia bariátrica, no caso dos portadores de obesidade mórbida, são os caminhos mais recomendáveis”, indica o especialista.

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